Muros e tabus no nosso caminho.



CHAMADO PARA REUNIÃO
Demandas de Reforma no Estatuto da Unicamp
QUARTA-FEIRA (24/11) ÀS 18H15 NAS ESCADARIAS DO IFCH





Artigo 136 dos Estatutos da Unicamp:
É vedada à representação estudantil qualquer manifestação, propaganda ou ato de caráter político-partidário ou ideológico, de discriminação religiosa ou racial, de incitamento, de promoção ou de apoio à ausência aos trabalhos escolares.



Muros e tabus no nosso caminho.

Pare. Olhe ao seu redor. Perceba, mais um muro está sendo levantado entre nós na Unicamp, grande parte deles invisíveis, entram no nosso dia-a-dia sem que percebamos. Olhe mais uma vez ao seu redor.

Quantas pessoas você cumprimentou? Com quantas pessoas de outros cursos você conversou hoje? Pois bem, esse é mais um dos muros, nos mantermos nos nossos cursos, concentrados no nosso futuro, produtividade, CR, e quando olhamos para o lado não sabemos nem o nome daquela funcionária que nos ajudou a desvendar as siglas e os códigos de nossos catálogos de curso.

Quando menos esperamos, já estamos seguindo as regras que nos colocaram sem ao menos questioná-las. É assim que a Unicamp tem cumprido sua função como instituição de ensino, pesquisa e extensão. Primeiro vieram as cercas, a Unicamp, já afastada da comunidade de Campinas, se torna quase que um ensino privado e privando cada vez mais o seu acesso, que deveria ser livre, como qualquer outro espaço público. O que deveria ser de livre circulação, agora, com mais um muro, restringe o acesso d@s própri@s alun@s ao campus, mesclando às cercas, o discurso da violência urbana, e assim vamos nos sentindo acuados, sem reação, com câmeras nos vigiando e com o C.U.(cartão universitário) na mão, garantindo a nós, o privilégio de vivenciar a Universidade das 7hs às 23hs. Sim, agora temos hora marcada para pensar e circular no campus, daqui a pouco teremos que marcar hora para sorrir e respirar.

Esses são apenas alguns aspectos dos muros e dos tabus que nos empurram goela abaixo diariamente, mas que tem como cerne a lógica de padronização, ou seja, nós alunos, entramos na Universidade com um único objetivo para a instituição – mantermos o padrão Unicamp. Para isso, desde nossos primeiros passos no campus somos bombardeados de informações que nos acalentam e nos dão a sensação de cuidado – e a Universidade abre seus braços, nos recebe e nos trata como eternamente jovens, encarnando um papel paternal, cuja sabedoria não pode ser questionada, e nós, nunca alcançarmos a maioridade legal. E assim, mais regras nos são empurradas, os espaços de sociabilidade diminuídos e nós estudantes, mais uma vez limitados às “sabedorias” dos que dirigem a Universidade, culminando na ausência e cercamento das nossas liberdades: de pensamento, de manifestação e de sociabilidade.


Não nos posicionarmos coletivamente diante desse cerceamento brutal é concordar com ele, você concorda?


Até quando esses temas serão considerados PERFUMARIA ??

Assédio Moral
Assédio Sexual
Racismo
Machismo
Homofobia
Violência

A onda recente de repressão aos estudantes reacendeu uma antiga reivindicação: a necessidade de reformar o estatuto da universidade.

Desde 2008 levantamos a necessidade que a Unicamp se posicione e inclua no seu estatuto questões como assédio sexual, machismo, racismo, homofobia, assédio moral, dentre outros. São questões imprescindíveis, mas que, infelizmente, ainda são considerados problemas menores e desaparecem entre as tantas prioridades do movimento estudantil e outros movimentos que circulam dentro da Universidade.

Nos últimos anos uma série de eventos chamou a atenção para preconceitos e práticas discriminatórias que se reproduzem com força dentro da universidade: casos de homofobia em festas na USP, o caso “Geyse” e mais recentemente o terrível “rodeios das gordas” promovido por alunos da UNESP. Esses eventos, que causaram indignação e que precisam ser veementemente repudiados, infelizmente não são casos isolados. São casos extremos de uma mesma lógica que permeia o nosso cotidiano e cuja naturalização nos impede de ver o seu real poder opressivo. Quem nunca presenciou demonstrações de homofobia no campus? Quant@s de nós não ouvimos casos de assédio sexual cujos autores eram professores dessa universidade? Quant@s de nós presenciamos nas festas e baladas situações de constrangimento a mulheres? Cotidianamente convivemos com práticas discriminatórias, num nível considerado tolerável. Mas essas violências precisam ser vistas como o “caldo de cultura” para explosões de intolerância como o “rodeio das gordas” e tantas outras.


Nosso corpo nos pertence?

Essa “clássica” palavra de ordem do movimento feminista infelizmente mantém sua atualidade. A quem pertence o corpo feminino? Numa sociedade que impõe um padrão de beleza, que controle o corpo feminino das mais diferentes formas, que o poder médico detém informações e ainda nos vê como local de reprodução, que tem um Estado que acha que pode determinar se queremos ou não ter um filho (proibição do aborto) não surpreende que muitos homens achem que podem fazer o que bem quiserem com os nossos corpos. Isso para não falar dos corpos considerados abjetos. A “passada de mão na bunda” de uma mulher não é a mesma forma de violência que, por exemplo, o rodeio das gordas. Mas pertencem a um universo de referência comuns, a uma mesma lógica machista e patriarcal que precisa ser condenada, seja quem for o seu autor.

Naturalizar a opressão é ser cúmplice da violência.

Não acreditamos que o fim de uma luta deva estar em bases legais, mas sim que podem ser meios para ascender à mudança. Assim chamamos para uma reunião na quarta-feira (24/11) às 18h15, nas escadarias do IFCH, tod@s @s interessad@s em discutir essas questões e levantar demandas de uma mudança efetiva no estatuto da Universidade, construída conjuntamente e dialogicamente, na qual consigamos deixar clara a necessidade de uma liberdade real neste espaço público.

É um absurdo não termos a liberdade de ir e vir, ser quem somos e de nos expressar, manifestar e sociabilizar como quisermos, sem as amarras que as normas sociais, culturais e institucionais nos impõem.




Coletivo Feminista
http://coletivofeminista.blogspot.com/

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