Práticas feministas, inclusão e permanência de mulheres na universidade


feministas

Militante do Coletivo Feminista juntamente com outra militante do Coletivo das Vadias de Campinas concedem entrevista para o o projeto MISEAL- Medidas de inclusão social e equidade no ensino superior na América Latina, desenvolvido pelo Núcleo de Estudos de Gênero - PAGU da Universidade Estadual de Campinas. Compartilharam e problematizaram questões relacionadas à situação das mulheres hoje e os possíveis desafios para a garantia das mulheres na universidade. As estratégias utilizadas para combater o machismo na universidade na sociedade também são abordadas nesta entrevista que buscou ainda trazer relatos de experiências de enfrentamento ao machismo, vivenciadas por elas na Unicamp e na sociedade.

Leia a reportagem na integra:
 Práticas feministas e a inclusão de mulheres na Unicamp

Assista o vídeo da entrevista: Entrevista

PEC das domésticas: uma questão também feminista de ampliação a direitos para as mulheres


Este tema tem sido amplamente debatido desde a aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que estende aos empregados domésticos todos os direitos dos demais trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Foram 66 votos favoráveis e nenhum contrário.
Por que falar de direitos ampliados às mulheres? Não é de hoje que as tarefas domésticas são delegadas às mulheres. Tarefa esta somada a sua jornada de trabalho fora de casa, o cuidado com os filhos e  a manutenção da casa, seja ela mesma executando ou ainda supervisionando as atividades repassadas e executadas por outra mulher que atende pelo título de empregada doméstica.
Segundo a antropóloga Jurema Britis estas mulheres correspondem a mais de 7 milhões de trabalhadoras domésticas no País, ou seja, este número revela quantas mulheres executam este tipo de trabalho, que na nossa sociedade patriarcal não é tido como um trabalho, mas sim como uma atividade de responsabilidade feminina e “inata” as mulheres desde sempre. Este lugar imposto e construído socialmente para nós mulheres diz muito sobre o que está sendo debatido com a PEC das domésticas, pois se trata de um passo alargado para mudanças na estrutura de dominação e exploração da força de trabalho de mulheres e um processo importante para reflexão deste lugar de servidão feminina presente desde a escravidão de negras e indígenas em nosso país.
Mudar a relação entre patrão/oa e empregada vai além de garantir direitos trabalhistas, está amplamente relacionada com a subjetividade da relação estabelecida entre estes atores, relação esta hierárquica, perpassada por afeto, confiança e favores não passíveis de remuneração, engendrando um círculo de dependência entre patrão/oa e empregada permeada por sentimentos que estão, na verdade, relacionados à servidão e não a prestação de um tipo de serviço, de trabalho amparado pela lei.
Segundo Britis “para um salário mínimo, será um custo de 96 reais a mais no custo da trabalhadora por mês. Não é uma coisa absurda, se gasta muito mais quando sai para beber cerveja”, portanto  não se trata de dinheiro. Se trata  de colocar em xeque este sistema confortável de exploração e submissão de mulheres a um serviço pesado e mal remunerado que favorece o contratante que tem a sua disposição alguém que satisfaça suas vontades, seja servindo um chá no meio da noite, embalando o filho que chora -  mesmo não sendo de sua responsabilidade, alguém que acorda mais cedo e busca o pão quentinho para o café da manhã, que passa impecavelmente suas roupas, ordena a casa e a deixa apresentável para a família e para os outros, um lugar limpo e ordenado que diz muito sobre você e a necessidade de se apresentar assim: “limpo e organizado” para uma sociedade “limpa e organizada”.
Este tema sempre me incomoda, pois não vejo como me desvencilhar das amarras da criação a qual eu e a maioria das mulheres fomos submetidas, me vejo sempre preocupada em deixar minha casa apresentável aos outros. Minha avó conta com orgulho para a minha companheira na mesa durante o almoço: “a minha neta quando tinha 2 anos pegava o pano e passava na geladeira para a me ajudar, e servia sua mãe desde pequena quando ficou doente, sabe cuidar da casa como ninguém!”. Cozinho, lavo, passo, limpo e ordeno muito bem uma casa. Aprendi o oficio como podem observar na fala de minha avó, desde muito pequena, entre meus brinquedos tinha o fogãozinho, as panelinhas, a casinha que meu avô fez no quintal pra mim e dentro havia tudo em miniatura que representava o privado – a casa- o lugar que estava sendo designado a mim.
 Hoje cursando ciências sociais e prestes a me formar não consigo deixar de me recordar como foi difícil o caminho até aqui. Foram 10 anos de subempregos com acúmulos de funções, com salários desiguais executando a mesma função que um homem, de bolsas de permanência na universidade que te obrigam a cumprir horas de trabalho tapando buracos da instituição precarizada do ensino superior público. Na minha primeira bolsa na secretaria de pós-graduação em enfermagem na UFSC fui ensinada como tinha que servir a bandeja de café e biscoitos variados para a reunião das professoras, como parte das tarefas a serem desempenhadas para o meu aprendizado acadêmico. Hoje as bolsas de permanência estão mudando tanto na UFSC quanto na UNICAMP onde estou hoje, somos alocados em bolsas relacionadas a projetos da área do curso. Porém, a reprodução deste sistema de tarefas domésticas e a exploração daqueles que estão em posto mais elevado está presente também no espaço de produção de conhecimento – a Universidade - que não se isenta reproduzir a manutenção de mulheres em funções consideradas de baixo prestígio como a limpeza, com baixos salários e ainda pedindo os tais favores que estas são obrigadas a fazer para não perder o emprego, assim como a empregada doméstica que também é obrigada a executar favores nos lares das classes médias e altas da sociedade brasileira.
Que a PEC das domésticas não venha somente avançar no sentido de direitos, mas que também venha por a mesa esta questão de classe que aprisiona mulheres para a manutenção de privilégios de patrões/oas, para que empregadas domésticas possam ser tratadas em pé de igualdade nas relações de trabalho não como um membro da família que dorme no quarto dos fundos e por ser tão “querida” a família não precisa ser remunerada com outros trabalhadores. Que estas mulheres tomem em suas mãos esta conquista legal e exijam que seus direitos sejam garantidos, que a PEC em alguma medida possa mudar o sentimento destas empregadas domésticas para que os limites da naturalização desta função desde a infância possa ser transformado e atribuído sim como um trabalho. Por fim que a PEC das domésticas avance no espaço privado do lar, mesmo este ainda sendo o lar do outro para que mudanças aconteçam, estas são também questões feministas!
Caroline Gorski
Graduanda em Ciências Sociais - Unicamp
Militante do Coletivo Feminista da Unicamp



Jogo online: Gênero e Educação em busca da igualdade

UNESCO lança jogo online para educar para a igualdade. O jogo pode ser uma ferramenta para auxiliar no debate sobre a igualdade de gênero, entrei no jogo e ele traz informações sobre o acesso a educação de mulheres e homens em 200 países no mundo.
Acesse o jogo disponível em francês, inglês e espanhol.



“Berra de volta!”: mulheres combatem assédio sexual com ajuda da internet

Por , 03/04/2013 11:05

 Rede internacional contra violência sexual atua em 25 países. Hollaback! (“Berra de volta!”) parte do princípio que assédio nas ruas pode ser preâmbulo para estupro. E usa mapas e outras armas informáticas no combate.


28 de setembro - dia pela Descriminalização do Aborto na América Latina e Caribe





Em 2007 decidimos escrever um jornal e divulga-lo tanto de maneira impressa como também através do nosso blog.  Escrevemos um jornal com um tema específico e com uma das mais antigas bandeiras das feministas brasileiras: ABORTO, pois para nosso grupo o aborto é um tema que tem que ser visto por muitos olhares. Há a constatação de esse ser um dos principais motivos de mortalidade materna, principalmente para aquelas que encontram em seu caminho a necessidade de utilizar as mais agressivas armas para interromper uma gravidez indesejável, levando, em muitos casos, ao óbito dessas mulheres. Por ser o aborto um crime no estado brasileiro por isso tem sido uma das principais barreiras para que as mulheres possam escolher sobre seus corpos, sem o véu moral e religioso.

Recentemente dois renomados investigadores brasileiros receberam o prêmio Fred L. Soper de Excelência em Literatura sobre Saúde Pública[1], pelo artigo acadêmico intitulado: “Aborto no Brasil: uma pesquisa domiciliar com técnica de urna”[2], que vem a ser uma evidência científica significativa para que a questão do aborto saia da clandestinidade e se torne uma questão de saúde pública. Este estudo descobriu que uma em cada cinco mulheres brasileiras realiza pelo menos um aborto até os 40 anos e essas mulheres são comuns, ou seja, pertencem a todas as classes sociais, muitas são casadas e praticantes de alguma religião. Esse importante estudo aponta para a necessidade de termos um debate amplo, sem que as lentes morais das igrejas e dos grupos religiosos se imponham e ditem as regras no estado brasileiro, um Estado Laico que deve ser gerido e ter suas leis a partir de constatações como essas, em que grande parte das mulheres brasileiras realizarão um aborto em sua idade reprodutiva, portanto cabe ao estado assegurar que nós mulheres possamos realizar a interrupção de uma gravidez indesejável sem que necessitemos buscar meios sombrios e altamente perigosos para fazer valer nossa vontade e direito de escolha.

Assinalamos ainda que essa questão nos toma diariamente as caixas de e-mail, onde muitas mulheres e homens nos escrevem buscando ajuda, conselhos, dicas de onde realizar um abortamento de maneira segura. Anteriormente as pessoas que nos buscavam para ter mais informações e compartilhar suas angústias o faziam de forma anônima, afinal no Brasil a prática do aborto é crime, porém nesse último ano essas mulheres e homens desesperados na busca de uma solução para esse problema não mais o fazem de maneira anônima, dão seus nomes, contatos, telefones, o que nos faz pensar em como melhor esclarecer e ajudar essas pessoas. O aborto ainda ser crime no Brasil nos deixa de mãos atadas diante dessas situações, nos restando apenas indicar outros sites para que ali essas pessoas possam encontrar respostas que ainda não podemos dar.

Portanto, nossa luta tem que ser diária para que mulheres e homens possam decidir sobre suas vidas e PARA QUE AS MULHERES TENHAM O DIREITO SOBERANO DE ESCOLHEREM O QUE FAZER COM SEUS CORPOS! Para que as mulheres possam escolher o momento certo para serem ou não mães e esse direito tem que ser uma prioridade de um Estado que tem que ser regido pelas leis das pessoas, e não pela lei da moral religiosa que impera e reprime diariamente as mulheres e para que estas possam ser donas de suas próprias vidas.


“EDUCAÇÃO SEXUAL PARA DECIDIR; ANTICONCEPCIONAIS PARA NÃO ENGRAVIDAR; ABORTO LEGAL E SEGURO PARA NÃO MORRER!”

                                                  Arte: Abortion, Paula Rego



Visíveis até que ponto: quando ser lésbica ultrapassa as amarras

Bathing Women - Tamara de Lempicka,1929.



“Eu gosto de mulheres, eu sou sapatão, eu sou sargento, fanchona, lésbica, eu colo o velcro, eu gosto de colocar as aranhas pra brigar.” (trecho do filme A Partilha, 2001).

Esse pequeno trecho que inicio minha fala foi retirado do filme A partilha em que a atriz Paloma Duarte é uma das protagonistas e sai do armário assim, aos gritos, como um peso tirado das costas de suas amarras familiares. Quando assisti ao filme tinha 17 anos e meus olhos brilharam, meu coração acelerou e percebi que aquelas eram as palavras que eu queria pronunciar no meu seio familiar. Esse arrebentar das portas do armário protagonizado por Paloma Duarte acontece quando suas outras 3 irmãs (Lilia Cabral, Glória Pires e Andrea Beltrão) a questionam sobre sua sexualidade.
Bom, quando tinha meus 17 anos já me sabia lésbica, porém com milhares de medos de dar pinta e me denunciar. Só consegui chutar as portas do meu armário e romper o véu dos amores fantasiados e platônicos quando entrei na universidade. Foi necessário sair de casa, estar com pessoas maravilhosas ao meu redor para que me sentisse a vontade em ser o que sou e construir minha identidade própria, com acertos e erros. Foi na universidade que aprendi e percebi a importância de se lutar para que eu e outras mulheres e homens pudessem ser aquilo que desejassem ser.  Logo em 2004 participei de um grupo autônomo chamado: “Diversidade: pela livre expressão da sexualidade humana”, formado por alunos de diversos cursos da Unicamp, mas que tinha em sua composição maior parte de homens. (Éramos poucas mulheres, bem poucas...). O grupo existiu até 2005, pois como grande parte dos grupos universitários autônomos, há uma série de dificuldades em fazê-los seguir adiante. Em 2005 já sabia da existência do Coletivo Feminista e decidi me juntar àquelas mulheres e nunca mais deixei o grupo! Nessa trajetória é que percebi a importância de fazer uma luta feminista emancipatória e que essa luta não deveria se restringir às mulheres e sim à pessoas que não tem a liberdade e muitas vezes nem a escolha de ser, de estar, ou mesmo a escolha de escolher serem/estarem o que desejavam ser.
Percebi que comecei a lutar pelo meu direito de ser mulher feminista, mulher lésbica, mulher gorda, e poder ser uma mulher pública, pois sabia que tinha um lugar com que eu pude contar para lutar essa luta privada e torná-la pública e política e esse lugar tem sido o Coletivo Feminista.

Já li e ouvi dos maiores absurdos utilizados para justificar o fato de mulheres serem lésbicas:
 Mulheres são lésbicas porque sofreram algum tipo de trauma ou violência sexual; mulheres feias, gordas, mal amadas, mal comidas se tornam lésbicas, e assim seguem propagando barbaridades. Esses absurdos caminham lado a lado com outros tipos de preconceitos em relação à mulher lésbica, como: lésbicas precisam mesmo é de um homem de verdade (ou seja de um pênis) para perceberem que estão enganadas sobre sua sexualidade – e acreditando nisso muitos homens no Brasil e em outros lugares do mundo estupram lésbicas como nós dizendo que estão nos dando uma lição!?! O estupro corretivo é a violência contra a mulher no seu limite mais hediondo e ele é praticado, pois ainda temos no nosso mundo os espaços de mulheres e os espaços de homens, onde às mulheres é desejado que sejam submissas ao varão, que não fale em público, que não exponha em público nem torne político o que acontece no seu privado, e nisso muitas vezes a violência e a sexualidade ficam silenciadas.
Na África do Sul há um “surto” de estupro corretivo e por ano são 500mil casos. Essa violência é aceita socialmente, ou seja, pelo fato de pessoas acharem que isso é certo, que é uma forma de “curar” a homossexualidade (que não tem cura porque não é doença!) feminina e que é uma forma de evitar que meninas “virem” lésbicas, os poucos casos que são denunciados não são julgados e quando chegam nessa instância os policiais humilham tanto essas mulheres a ponto de não quererem levar nenhum tipo de denúncia pra frente. E não achemos que no Brasil estamos numa situação diferente, pois no ano de 2011 veio a tona uma comunidade no Orkut defendendo o estupro corretivo como uma questão de AMOR!?! ESTUPRO E AMOR NÃO COMBINAM EM HIPÓTESE ALGUMA!! ESTUPRO É CRIME e tem que ser denunciado, a mulher que passa por essa situação tem que ter apoio e acolhimento e não passar por humilhações e julgamentos de conduta.
Outro preconceito que gostaria de mencionar é do mito de que não existe violência entre casais lésbicos – afinal, diriam os conservadores, duas mulheres juntas nem poderiam ser um casal, quanto mais protagonistas de violência doméstica. Pois bem, mulheres lésbicas não estão fora da sociedade e compartilham dos mesmos códigos sociais, e muitos casais reproduzem o modelo de relação heteronormativa, ou seja, reproduzem comportamentos esperados para homens e mulheres, e assim pode existir violência entre casais do mesmo sexo, lembrando que violência não é só a física, é também a psicológica, a moral e a social e nesses casos tem que denunciar!

Tem outro ponto que gostaria de abordar: Saúde Lésbica
                Há vários casos de mulheres lésbicas, quando vão aos ginecologistas, são obrigadas a ouvir: “Por que você quer fazer preventivo se você é lésbica?” ou ainda: “relações entre lésbicas não são consideradas relações sexuais completas, portanto você não precisa fazer o preventivo” o que é uma falácia, pois estamos expostas a várias doenças como o HPV que é detectado pelo preventivo que é um direito de toda mulher tendo ela vida sexual ou não! Quando temos problemas de atraso menstrual ainda ouvimos: “Pra que você quer menstruar se não pode ter filhos?”. Bom, DST’s e AIDS – as lésbicas também correm esse risco, já que secreção vaginal e o sangue são veículos para transmitir as doenças sexuais. Tem também a questão do câncer de mama – pois muitas lésbicas escolhem não exercer a maternidade – como muitas mulheres, independente da orientação sexual – e alguns estudos afirmam que o fato de não estimular as glândulas mamárias pode facilitar o aparecimento desse tipo de câncer. Portanto falar de  saúde da mulher lésbica é nos tornar visíveis socialmente, inclusive para o Estado, portanto não podemos aceitar a ignorância e o descaso médico em relação à nossa sexualidade! Denuncie os médicos que tem estes tipos de conduta!

Movimento LGBTT e o machismo intrínseco:
Em relação ao próprio movimento LGBTT e a reprodução do machismo dentro do movimento: podemos observar que isso acontece quando se resume às lésbicas e outras mulheres em sua condição natural de mulher, usando o termo “racha”, por exemplo. Ou mesmo quando se reproduz os estereótipos machistas da sociedade em relação às lésbicas ao afirmar “sapatão não sabe se divertir”, “lésbica é tudo brava e nervosa” ou “sapatão só gosta de mpb”. Há que se realizar o exercício de combater o machismo inerente a nossa cultura em relação a mulher e que se reproduzem nos micro espaços, inclusive na delimitação dos espaços públicos e políticos, como lugar para os homens se manifestarem e tomarem à liderança dos lugares. Nós mulheres temos que nos posicionar também, falar de política e fazer política também.

A questão do fetiche em relação a duas mulheres juntas, como se elas só o estivessem ali para entreter os desejos masculinos:
O fato de estarmos numa sociedade patriarcal e androcêntrica que busca manter as relações de poder que privilegiam homens brancos e heterossexuais faz com que grande parte do imaginário masculino esteja permeada pela fantasia de que duas mulheres ou mais os tem que satisfazer sexualmente e, portanto duas mulheres lésbicas só o são para provocar, se insinuar para os homens. Ao andar na rua vejo os homens olhando para mim e minha companheira, não podemos dar as mãos que eles já nos olham, não podemos sentar juntas no ônibus e deitar uma no ombro da outra depois de um dia exaustivo que os olhares perversos já nos seguem. Ser lésbica não tem nada a ver com isso, não, não queremos que um homem venha resolver nosso problema, pois não há problema na vida e no sexo que praticamos. Já fui constrangida várias vezes em espaços da universidade também, por estar me relacionando publicamente com outras mulheres. Muitos homens acham que tudo gira em torno de si, do falo e de suas taras. Já presenciei momentos em que mulheres, colegas de turma, se experimentavam de diversas formas junto a outras mulheres e grande parte das vezes eram atravessadas por boçais que acham que tudo se resume ao pênis e sua existência.

Portanto falar de visibilidade lésbica é impossível sem falar do sistema em que vivemos e sem problematizar o lugar das mulheres na nossa sociedade. É impossível pensar na invisibilidade lésbica sem pensar no machismo e nas relações desiguais de gênero. Tornar a mulher lésbica visível só será possível se desnaturalizarmos e superarmos as relações desiguais existentes na nossa cultura, no Estado e no nosso cotidiano. Encerro com um trecho do manifesto escrito em 2009 pelo Conselho Federal de Serviço Social:

“Afirmar-se lésbica é uma identidade política que transcende “a identidade sexual” e, portanto, constitui uma ação política para desconstrução da heterossexualidade compulsória e da heteronormatividade que se manifestam, por exemplo, na imposição da maternidade como obrigação e não como opção; (...) a heterossexualidade obrigatória afirma-se cotidiana e sutilmente em diferentes dimensões da vida social naturalizando a invisibilidade e a vivência da lesbianidade entre quatro paredes.” (http://pt.scribd.com/doc/74271532/visibilidade-lesbica)

Luciana Ramirez (Lésbica, feminista, integrante do Coletivo Feminista da Unicamp e mestranda em sociologia/UNICAMP).