A mãe de Chaplin e o Dia das Mães



Ao abrir a página da folha on line deparei-me com a seguinte manchete: Biografia de Charles Chaplin revela promiscuidades da mãe do cineasta.
Só na manchete já vieram várias questões na minha cabeça:
1)Será que vão justificar através da “promiscuidade” da sua mãe as atitudes de Chaplin o qual batia e humilhava constantemente suas companheiras e não dividia justamente os lucros de seus filmes com esposas e namoradas as quais eram atrizes principais de seus filmes?
Detalhe: a biografia foi feita por um psiquiatra, o qual segundo a reportagem teve acesso a muitos documentos e assim conseguiu escrever uma biografia “de forma detalhada”, seja lá o que isso quer dizer.
2)Essa é a semana do Dia das Mães, só se fala nisso:
-nas promoções das lojas: “leve um secador e uma panela na promoção assim sua mãe ficará + bonita e fará a sua carne de panela preferida com sorriso de orelha a orelha” – hahaha.
- nos telejornais: “é possível ser uma mãe atenciosa e ter uma carreira de sucesso?” A Angelina Jolie e Gisele Bündchen conseguem!!!
-e claro que os jornais não iriam deixar essa data passar em branco. Por que afinal de contas “mãe é mãe”, ou melhor, o Dia das Mães é a segunda data + rentável para o comércio.
3)A última questão foi: a biografia é de Chaplin e o que a “promiscuidade” da mãe dele tem a ver com isso?Ah e o que o autor considera “promíscuo”?
Infelizmente descobri o que é promíscuo: é ter amantes. Homens têm amantes e não são considerados promíscuos (só os gays). E no começo do século XX era muito + aceitável que o homem tivesse amantes, existia (e ainda existe em muitos lugares) um discurso da necessidade inata do homem, praticamente instintiva de saciar seu apetite sexual, alguns até dizem necessidade biológica, como comer e excretar. Vocês devem lembrar histórias de avós e bisavós que ficavam caladas e nem cogitavam a idéia de pular a cerca no casamento, enquanto seus “maridos” tinham amantes que toda a cidade sabia e isso não era um problema.
Bom, a mãe de Chaplin, Hannah Chaplin, tinha amantes e pior ela até contraiu sífilis!!! Ai meu Deus, sífilis no começo do século XX era coisa de mulher promíscua!
Não gente não era (ah e vamos tirar essa palavra “mulher promíscua” do nosso vocabulário)! Para quem não sabe sífilis é uma doença sexualmente transmissível e que ainda hoje tem um alto índice de contaminação apesar de um tratamento efetivo só ter sido encontrado no final da Segunda Guerra Mundial, com a difusão da penicilina em 1945. Ainda hoje são contaminadas 30 milhões de pessoas por ano no mundo, segunda a estimativa da Organização Mundial de Saúde.
Descobri que ao contrário do que se pensava, o homem é o vetor privilegiado de transmissão da doença já que eram eles quem passavam a doença nas suas relações sem proteção fora do casamento para “mães de família” (isso ainda acontece com a AIDS) e no período de guerra esse número aumentava devido às relações homossexuais entre os soldados.
Depois de tudo isso querem que eu acredite que e a mãe do Chaplin era promíscua? Não me façam rir.
Por fim, vem a música do grande Cazuza: “Por que só as mães são felizes”.

Andressa, integrante do Coletivo Feminista

Fontes:
“Biografia de Charles Chaplin revela promiscuidades da mãe do cineasta”, folha on line, da Livraria da folha em 30/04/2010: http://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/ult10082u728277.shtml
“Sífilis”, Wikipédia, a enciclopédia livre: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADfilis
“Sífilies”,Dr. Luiz Jorge Fagundes, em drauziovarella.com.br: http://www.drauziovarella.com.br/ExibirConteudo/2842/sifilis
No asilo das Madalenas:Estudo sobre doenças venéreas e gênero mostra porque as prostitutas, acusadas de fonte de males aos homens, eram confinadas em sanatórios – entrevista com Sergio Carrara no Jornal da Unicamp de 02/2002 por João Maurício da Rosa: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/jornalPDF/ju170_p09.pdf
Filme “Chaplin”, de Richard Attenborough, 1992

Um comentário:

Pilar disse...

Arrasou no texto e nas associações Mabe! Adorei.